De como descobri o final da Avenida Maria Quitéria



texto dedicado a Maria Quitéria (todos conhecem sua história) 
e às mulheres, nesta importante data de 08 de março.


A rua que mais andei a minha vida toda, excetuando-se a rua onde moro, é a Avenida Maria Quitéria. Passava por ela para ir aos colégios, às casas dos amigos, ao shopping, encontrar as paixões. A velha frase do meu pai “Isso aqui era tudo mato!” também se refere à Maria Quitéria. A imagem dela é tão forte para mim (ou eu apenas ache que seja) que já cheguei a iniciar um romance cujo começo é exatamente este – falando da Maria Quitéria.

Vocês podem também pensar que isso de fato é um começo de romance, e que eu estou apenas copiando e colando aqui, e que eu estou sendo metalingüístico e que, mesmo que não seja o romance, quem sabe eu não comece um romance assim mesmo, tendo essa sacada justamente agora em que eu escrevo o texto, e com isso possa parecer original. 


Mas, não é isso. Apenas quero falar da Maria Quitéria para relatar como foi minha experiência ao descobrir o final dela. Considero-a tardia, pois já andei tanto por esta avenida que deveria conhecê-la de ponta a ponta – mas só vim fazer isso recentemente. 


O trecho que mais conheço é o começo dela, onde temos agora um viaduto ligando-a com a Fraga Maya. Temos as casas de show Mega Fest e Garage, e a avenida divide bairros como a Queimadinha, a Coronel e a Kalilândia. Tínhamos o finado Campo São Paulo, hoje Mercantil Rodrigues, um hipermercado excêntrico que veio para tentar abalar o reinado do Bompreço e do G Barbosa (o que me parece impossível: nem o J Santos ele está conseguindo superar. Além do mais, nada destruirá nunca o G Barbosa. Esse maldito parece o Google, não à toa também começa com a letra G – está em todos os lugares, em todos os bairros; em cada rua se vê uma filial do G Barbosa: no Centro, no Sobradinho, na Cidade Nova, no Centro de novo, no Feira VII, no Centro mais uma vez... em todos os lugares do mundo existe um G Barbosa). O velho colégio Nobre, onde até alguns meses atrás eu me recusava a pisar no seu solo, por questões de princípios. Até aí era minha vivência maior. Algumas vezes eu chegava até a Getúlio Vargas.

Conheci alguns amigos que me fizeram andar mais alguns metros da Quitéria, e chegar a transitar por ela atravessando também a Presidente Dutra. Foi nessa época que eu passei ali pelas primeiras vezes no mês da micareta, e eu tinha que fazer várias voltas para passar pelas armações dos camarotes. Era a vez de conhecer a fundo o BNB, o Colégio Estadual, a locadora de filmes Planet DVD. Porém, só foi até pouco depois da Presidente que eu andava pela Maria Quitéria. Jamais passava da pizzaria Água na Boca. E ficava olhando o horizonte distante, sempre me perguntando: onde será que essa avenida vai dar? Será que ela é infinita? Será que, à medida que avancemos, às árvores vão crescendo mais ainda, crescendo enormemente, até chegarmos num bosque escondido em Feira de Santana, onde teríamos espécimes raríssimas de animais? Será que ela dava no Tomba? Será que ela dava numa BR Fantasma, que levaria para uma vila secreta onde só habitavam virgens lindas e cachorros de três cabeças, como o Cérberos? Será que ela daria, oh, céus!, no Eldorado?! Muitas eram minhas suposições, mas nunca tive coragem de andar até o final – sempre achei que seria longe demais e que eu me cansaria antes de conseguir.


Um dia, Dolores Rodriguez me chamou para ir num tal de Gauchão da Maria Quitéria encontrar uns amigos (dentre eles, Ederval Fernandes). Estávamos a pé. De repente, passamos a Presidente; passamos a Planet DVD; passamos o Água na Boca. Pronto, pensei; é agora: o Gauchão fica no final da Mª Quitéria. Eis o final dela: um estabelecimento capitalista. Que decepção.

Para meu alívio, o Gauchão não ficava no final da Mª Quitéria. Parecia que existia muito mais ainda. Fiquei muito feliz e aliviado. Meu sonho do Eldorado ainda não havia sido assassinado brutalmente pelo capitalismo.

Até que, de repente, certo dia, há poucos meses atrás, recebo o local de prova do último ENEM: um colégio lá depois do Feira VII. Fui irresoluto: minha mãe, a senhora vai me levar de carro. Já fui pro Feira VII algumas vezes: sempre percorri o caminho da João Durval. Portanto, achei que o percurso seria o mesmo. Mas eu estava redondamente enganado.


No carro em movimento, percebo que minha mãe entra na Maria Quitéria. Resolvo não perguntar nada sobre o caminho. Até que ela passa a Getúlio, passa a Presidente, e começo a me preocupar. “Quando ela vai entrar na João Durval?” penso. De repente ela passou do Água na Boca e do Gauchão. Entrei em desespero: “Será que ela pretende ir até o final?” Não pude perguntar a ela; estava com medo de ela dizer que sim, indo até o final da Maria Quitéria se chega no Feira VII. Seria horrível pra mim.


De repente, uma desgraça: ela chegou ao final da Maria Quitéria. E, para minha decepção, para minha ira, para meu grande trauma urbanístico, a Maria Quitéria acaba nada menos desembocando na João Durval!!!! Na ridícula João Durval, avenida medíocre e vulgar, grosseira, pérfida, traiçoeira! Nada contra o dono do nome dela, mas esta é completamente ignóbil, com seu percurso todo torto e desengonçado... não tem a beleza, a imponência, as árvores, o esplendor da Mª Quitéria! Maldita seja a João Durval! A grande e majestosa Maria Quitéria termina desembocando nesta repugnante avenida, tal como um riachinho qualquer desemboca nos grandes rios que banham a humanidade! Não, não, mil vezes não! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!


E assim terminou uma história de amor, de esperança e de sonhos. A única lição que tiro é a seguinte: Feira é uma cidade maravilhosa, porque se eu morasse em Salvador teria de me preocupar não com uma, mas com uns trinta finais de avenidas grandes.

5 comentários:

8 de março de 2010 às 08:40 Devir disse...

Só para efeito de curiosidade¹... o G Barbosa já comprou o Mercantil Rodrigues.

Só para efeito de curiosidade²... há muito tempo se fala de ligar efetivamente a M. Quitéria a J. Durval retirando aquelas casas que fazem parte da Vila Mar da Tranquilidade e sobre o projeto original, ouvi certa vez que a G. Vargas e a M. Quitéria (que são perpendiculares) deveriam ir de um ponto a outro do Anel de Contorno.

Só para eeito de curiosidade³... Também acho a M. Quitéria exuberante e fantástica!

8 de março de 2010 às 15:38 André do Carmo disse...

O texto mais desestruturado que eu ja li nessa revista em toda minha vida...parece escrita de adolecente, repleto de informações erradas sobre o mercado de atacado e varejo do ramo de alimentos, até corrigidas pelo comentario anterior...e engraçado é em pleno Dia Internacional da Mulher eu ler um texto desse que se diz dedicado a Maria Quitéria... Com todo respeito ao autor, que inclusive nem sei quem é...

8 de março de 2010 às 16:19 DSL disse...

é nessas horas que eu acho válida a diferenciação entre opnião e fato (que Paulão tanto adora).

Belo texto, Daniel. Não seria melhor nem se fosse escrito por um adolescente.

9 de março de 2010 às 04:50 Raíssa Caldas disse...

Escritas de adolescentes devem ser consideradas.
Gostei das fotos. :)

15 de março de 2010 às 17:32 Jaitan disse...

Uma coisa, você não passou pela passagem secreta que lhe levaria à tranquilidade. Um tranquilidade tranquila, muito bela; mas oferecida aos demônios do poder, e aos resistentes desse "vale apena ver denovo"(mundo submiso).

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