Universo Paralello 10

| por Uyatã Rayra |



Uma semana transpsidental! Este é o adjetivo que julgo ser o mais adequado para definir a minha segunda experiência no maior festival de cultura alternativa do Brasil: Universo Paralello.

Ao atravessar a linha fronteiriça que separa o festival do resto do mundo é necessário despir-se de qualquer resquício de convencionalismo medíocre. Um pouso em outra dimensão terrena, e a ânsia de cerrar os olhos físicos para engendrar o despertar de uma nova visão: Expansão Mental. É isso mesmo que lhes descrevo! Toda exacerbação presente na minha descrição é ínfima perante a abundância sinestésica que houve naquele espaço.


À magia do litoral baiano – Praia do Garcez - 20 mil pessoas ou mais se reuniram em contemplação à profusão multilateral dos eventos psico-lúdicos que se estendiam pelos areais e coqueiros.  Quatro pistas, dispersas pela praia, soavam ininterruptamente as tendências mais extraordinárias da música eletrônica e orgânica mundial, e durante oito dias inéditos fui regado pelo clima alucinante da Costa do Dendê. Artistas de diversos fronts aterrissavam dos habitats mais longínquos do planeta, estampando coloridamente a paisagem pluricultural. O cronograma do evento era a síntese fiel do “tudo ao mesmo tempo agora”, e a onipresença seria uma útil virtude, caso não fosse exclusiva de Deus. Rituais indígenas, galerias de artes visuais, palestras, oficinas e cinema são apenas alguns exemplos da fartura artística.

Os que lá estavam assemelhavam-se a entes fantásticos foragidos dos mais pictóricos desenhos animados. As pessoas falavam, agiam, dançavam, pensavam e se vestiam de maneira essencialmente diversa. A preocupação ambiental com o equilíbrio da natureza era latejante, e todo nosso entorno era decorado com robôs, bonecos e objetos confeccionados com material reciclado. Das esquinas abissais surgiam as mais surpreendentes manifestações - a cada suspiro um impacto. Os eventos possuíam um grau de peculiaridade incrível: os DJs mesclavam percussões ancestrais com sons sintetizados, enquanto VJs sincronizavam um furacão de imagens psicodélicas no ritmo das músicas, tudo isso acompanhado de incontáveis apresentações pirofóricas equilibradas sobre pernas de pau. As bandas investiam todo seu potencial no experimentalismo, transformando meros shows em espetáculos. No circo, Freak Garcia suspendia pesos amarrados aos seus testículos. 

A iluminação por vezes ofuscava os olhos, e à noite apresentava um brilho todo especial, oferecendo-nos uma ambientação incomum. Havia na Pista Principal uma luz verde parecida com um raio laser, que quando incidia sobre mim dava-me a impressão de dividir-me ao meio; essa mesma luz quando vista da praia parecia atravessar o Atlântico, evocando todos os antepassados africanos para que viessem dançar psy trance.  Belos mesmo eram os raios lunares e solares que nos convertiam em atores principais, focando-nos no imenso palco natural; à meia luz os crepúsculos matutinos e noturnos tomavam o céu de assalto, infestando-o com um rouge carmim intenso. 

Nem tudo, entretanto, foram flores. A organização vacilou, e não desenvolveu um abastecimento de água eficaz, o resultado foi o estabelecimento do caos: alguns dias sem água para banhar-se, e quando esta chegou, as filas de acesso aos banheiros ficaram enormes, o que causou um constrangimento irreparável. A falta de água também tornou semi-impraticável o uso dos banheiros secos, impelindo as pessoas a fazerem suas necessidades a ermo. Talvez todo esse transtorno tenha sido um prelúdio para um futuro próximo. Outro vacilo que me intrigou bastante foi o fato do bruxo dos sons, Mad Professor, não ter tocado - ouvi rumores que a organização do evento não adiantou seu cachê. Contudo, creio que o caos foi necessário para instituir o equilíbrio com a pulsante harmonia que regeu o Universo.   

Estou a pensar que, por mais que eu me esforce em esboçar a vastidão singular do Universo Paralello, vocês só saberão da real dimensão dos fatos aqui explicitados se lá forem. Vários outros segredos foram propositalmente suprimidos por mim, já que, se eu fosse detalhar cada sensação que tive, restaríamos eu e vocês excessivamente fatigados. Tenham a certeza de que tudo que relatei não compõe a mínima parte da imensidão da experiência. Fica então a deixa, para que se sintam curiosos e convidados... 

Mais informações no endereço http://www.universoparalello.art.br/

Uma última consideração:
Fiquei alienado! Estou alienado! Perguntava-me a todo instante: como conseguirei eu me reintegrar à sociedade?

1 comentários:

25 de fevereiro de 2010 às 22:40 Camillo Alvarenga disse...

Olá Cabeça de Pen Drive

Que panorama alucinogéno
Alucina o gênio
Transpscicódélico !!!

Um passeio nas fronteira entre ilusão e o que não é real, pois quem cria sua própria ilusão faz dela sua constante realidade.

Uma grande atitude transcendentalística em tempos de tantas contradições.

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