Todo poder ao povo

texto e imagem logo abaixo dedicados a Maurício Correia.


Sempre me pergunto por que a frase “Feira está crescendo” me soa tão ilusória. Acho que não sou o único feirense que tem essa impressão. O verbo “crescer”, aplicado na sociedade da era contemporânea, só tem um significado: o econômico. O capitalismo, como se não bastasse todas as mazelas que traz, vem também aniquilar todos os conceitos relacionado ao “crescer”. O capitalismo não deixa ninguém dizer “Feira está progredindo”; só conseguem proferir “Feira está crescendo”. Por outro lado, quando você encontrar seu sobrinho anos depois, não vai dizer “Como você cresceu!”; a última vez que vi essa expressão foi por escrito, e foi numa crônica velha de Rubem Braga. Irá dizer “Você está um homão!” ou “Você virou um rapagão!”. Ninguém consegue dizer “Você cresceu!” porque este “cresceu” tem sentido biológico, e não econômico, e o capitalismo não deixa ninguém mais dizer a palavra “crescer” com outro sentido que não o econômico. Juro. Podem testar.


Devemos levantar bandeiras contra o capitalismo. Devemos destruir esse império que reina há anos, décadas, séculos. Por causa dele, ninguém chegaria hoje para dizer que Feira cresceu moralmente, por exemplo. Feira cresceu, está menos racista. Feira cresceu, as mulheres traem menos. Não tem como saber. Só se fizermos censo. Mas as pessoas mentem! Mas as estatísticas econômicas são perfeitas, porque não dependem da mentira das pessoas, mas da verdade dos fatos! Quem será que inventou a maldita estatística? Que mundo é esse onde pode-se provar que uma cidade cresceu economicamente mas não se pode provar que uma cidade é menos machista? Isso seria, como diria o colega Paulão (Paulo Moraes), “subjetivo” demais?

Na caixa de comentários de um recente post meu, instaurou-se a polêmica do ponto de van que fica em frente a um motel enorme, mas que se chama “Cajueiro”, devido a um cajueiro que existe ali perto. Muitos se orgulharam porque o motel “roubou o poder geográfico e demarcatório da pobre árvore, mas não conseguiu se impor como referência”. Gostei dessa demonstração múltipla de consideração pela princesa do Sertão. E é esse orgulho pelas grandes imagens de Feira de Santana que o capitalismo nunca vai subjugar. Não adianta asfaltar a Maria Quitéria. Meu pai sempre falará: “Quando eu era pequeno, isso aqui era tudo mato e eu vinha brincar aqui!”. Não adiantou asfaltá-la; ela não apagou da memória do meu pai os matos e as brincadeiras de infância. Vocês não conseguiram, seus miseráveis.

Portanto, esqueçam a frase “Feira está crescendo”. Ela não vale nada. Não adianta ter mil shoppings aqui, nem trezentas multinacionais, nem cinqüenta mil motéis em pontos de vans com nomes de árvores, porque o homem também vive de memória. E se a realidade foi repartida em parcelas por Deus, boa parte delas foi destinada à memória dos homens e ao tempo. Por mim nunca abririam um Habib’s aqui. Que os malditos árabes morram enlatados com seus petróleos e com seus Manchester Citys e suas contratações milionárias no Corinthians. Comparem as fotos abaixo e digam qual preferem: se queriam que Feira continuasse com o prédio inacabado e com tais frases pichadas [TODO PODER AO POVO!] ou se preferem o estabelecimento bonitinho e agradável do Habib’s.


Como em todo post meu eu deixo uma charada implícita, neste farei mais uma: proponho vocês a tentar descobrir o que é aquele “UILOMBO” escrito abaixo da palavra “RESISTÊNCIA!”

4 comentários:

15 de fevereiro de 2010 às 13:56 Unknown disse...

Respondendo a charada de João: o apenas visível na foto "UILOMBO" é o final de "COLETIVO QUILOMBO", um coletivo composto em parte por estudamtes aqui da UEFS, sendo a maioria (dos que conhço) do curso de história. E quanto a escolha das fotos, claro que prefiro a primeira, da obra inacabada do Habib's.

16 de fevereiro de 2010 às 18:16 Marvin disse...

Eu preferia o prédioa ntigo, que tinha um sebo, Bahia se não me engano, acabou se mudando não sai pra onde.
=/

Concordo com @Aritana quando termina a sentença do quilombo.

21 de fevereiro de 2010 às 05:45 Marcos Rosa disse...

Eu prefiro a segunda. Uma empresa oferecendo uma comida não-saudável, é claro, contudo, pode haver pelo menos umas dez pessoas trabalhando ali, ou como os anti-capitalistas, ou pseudo marxistas, comunistas dizem: 10 pessoas sendo exploradas pelo capital. De qualquer forma são dez pessoas trabalhando.
Podemos até sonhar a noite porém pela manhã acordaremos e o estômago reclamará por alimento, então é hora de se levantar...

26 de fevereiro de 2010 às 16:31 Unknown disse...

é!!!hummmm!!eu quero uma esfirra...

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