Sertão só (clichê eu sei)

| por Caio Augusto |


Faz 3 anos e meio que percorro as ruas do bairro Capuchinhos por causa da minha graduação, felizmente terminada. Sempre passei por uma rua logo à frente do restaurante Saigon, onde há uma casa de aparência rústica. De tanto passar percebi o fato d’ela estar quase sempre às moscas. Com o nome de Restaurante Casa do Sertão, sempre me senti impelido a entrar e pedir nem que fosse um escondidinho; mas o fato, durante todo o tempo em que estive na faculdade, nunca ocorreu.


Porém, a alguns dias atrás fui almoçar lá. O lugar é praticamente inabitado; até mesmo as moscas se esqueceram de freqüentá-lo, já que num ambiente vazio não há sequer um prato cheio para que esses insetos possam fazê-lo de banquete. Dentro do local se encontravam duas garçonetes, uma percebeu minha chegada e logo correu para pegar os cardápios. Na entrada havia um cartaz que me intrigava desde a época de passagens para a faculdade: ele traz o anúncio de uma internet em banda larga da cidade, um fato bem estranho para um local voltado a um culto bucólico. Além disso, haviam ainda dois cavalos de madeira para crianças ao pé da porta e um mural mais à frente com fotos de “ilustríssimas” pessoas que freqüentaram o recinto (confesso que não tive muito interesse em vê-las de perto). Mas o que dominava mesmo o local eram as mesas vazias rodeadas de cadeiras bem pesadas.









Sentado, olhando o cardápio e ainda meio perdido, pedi a primeira coisa que veio a cabeça – um escondidinho. Surpresa!, não tinha. Gastei algum tempo escolhendo e acabou sendo um frango assado com pirão de leite e vinagrete com suco de goiaba para acompanhar. Na espera, o que restava era observar o local: vários objetos espalhados que pareciam estar à venda a muito e muito tempo (quadros, esculturas, bonecos de barro). E suas etiquetas, daquelas do tipo branco com um retângulo vermelho na borda, continham números que pareciam preços, praticamente invisíveis devido a cor amarronzada do tempo. Ao lado da minha mesa havia um objeto destes com o “preço” – um cavalo esculpido em madeira na faixa de uns 17x10cm – onde em sua etiqueta havia “25,00” escrito à caneta e quase apagado pela velhice – pensei se aquele número era em Cruzeiros, Cruzado ou qualquer uma daquelas antigas moedas brasileiras.




No local ainda havia ventiladores velhos, uma televisão ligada (na Globo) e uma estranha mesa de totó. Podia-se ver a moça preparando o frango na churrasqueira enorme que tinha no salão. A comida, como já era de se esperar, não demorou muito. Quanto ao sabor, a junção do caseiro e do “beira de estrada decadente” proporcionou uma união interessante. Pedi um feijão tropeiro logo quando chegou o frango, mas acabou não me agradando muito. Comi, bebi e pedi a conta.



Junto com a conta vieram balinhas (daquelas que a tempos atrás eram de um centavo) e um sorriso da garçonete que interpretei como uma alegria de estar novamente atendendo alguém.

Do momento que entrei até a hora que saí, ninguém apareceu – tudo que havia em volta era uma coleção de mesas vazias. Entretanto, mesmo com tantas evidências, não posso ter certeza da decadência do lugar. Talvez em outros momentos ali ferva de gente, o que duvido. Mas, em relação ao almoço, apreciei muito: lugar calmo, comida boa e, ao fim, doce.

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