Ideologia revolucionária, revolta e revolução


Pintura corporal por Craig Tracy

“A revolução política radical de nosso tempo é a revolução estudantil, ou melhor, é a revolução dos estudantes e dos intelectuais não-comprometidos. São os estudantes e os intelectuais não-comprometidos o grupo revolucionário por excelência, o meio de cultura de onde poderão germinar a revolução política e a revolução de consciência contra a ordem tecnoburocrática.” Luiz C. Bresser Pereira

Eu acredito no movimento estudantil, pelo menos na eficiência deste no plano das idéias. Infelizmente, tenho me deparado com práticas que me arrastam a uma total descrença no poder revolucionário desses grupos, por perceber, sobretudo, que levam a maioria das vezes a um objetivo totalitário ou totalitarista, esquecendo-se de “lutar” pelo que inicialmente seria o objetivo primordial de sua existência: o bem de todos, ou a democratização de diretrizes que se mostrem mais justas e igualitárias para as pessoas em âmbito acadêmico e extra-acadêmico. O que me assombra é algo que se configura em algo recorrente, pelo menos nos meios nos quais minhas vias de percepção puderam averiguar, é o perigo latente dessas minorias totalitárias, “em nome da liberdade”, assumirem o poder.


Logicamente não há revolução sem que uma minoria assuma a liderança e adote uma determinada ideologia, e é aí que está a partícula que move meus temores e todas as minhas ressalvas quanto ao movimento estudantil, quando esta ideologia é adotada como a única legítima, excluindo-se todas as demais, caminhando para o totalitarismo cego.

Imaginamos que os estudantes por assumirem uma postura mais flexível, não pela fraqueza na construção de valores, muito menos por serem assolados de uma onda pós-moderna, subjetiva e relativista ao ponto de não assumirem uma posição, mas sim, por terem no espírito a fé pela liberdade e, sobretudo, as marcas dos sujeitos inconformados, capazes de realizar as mais bonitas revoluções, estejam afastados deste risco. Engano nosso. O idealismo estudantil corre este grande risco, cair no mesmo erro que estão combatendo – o totalitarismo, grande marca da sociedade moderna- podendo vir a desrespeitar o direito e a liberdade do outro.

Ainda tenho minhas cautelas quanto as ações conjuntas, em bloco, sempre acho que os sujeitos sucumbem para o bem maior, a Revolução Francesa estava errada quando declarou como sendo os princípios universais a igualdade, a liberdade e a fraternidade. Rousseau esqueceu-se de que não haverá igualdade enquanto houver liberdade, “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”, não é isso que chamam de isonomia? Ao passo que “todos nascem e vivem com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado” – obrigações são subjacentes a não-liberdade, não há escolha.

 Fotografia de Misha Gordin

O desafio é sair da comodidade da revolta e atingir a tão ansiada, palavra um tanto vulgarizada, revolução. Milton Santos uma vez disse que os brasileiros não são cidadãos por exigirem, ao invés de direitos, privilégios.

“O movimento de protesto que busca uma contestação total, e se exprime mediante iniciativas irracionais e absurdas que violam os direitos dos outros, contém em si um grave perigo. De fato ele se propõe como a única minoria iluminada, terminando por arrogar-se direitos especiais: em resumo esse tipo de protesto pretende tornar-se uma nova elite de poder.”  Noam Chomsky

2 comentários:

18 de fevereiro de 2010 às 11:06 M. Correia disse...

Dolores, meu anjo, se voce morasse no céu deus te levaria à fogueira por escrever coisas assim... a clareza pode ser uma blasfêmia, um pecado sem perdão. Mas é linda. E a beleza, seja no céu ou no inferno, já nasceu com a marca do perdão eterno.

6 de março de 2010 às 12:17 Marcos Rosa disse...

L. 17/18 "é o perigo latente dessas minorias totalitárias, “em nome da liberdade”, assumirem o poder."

Engraçado, também temo as minorias, que em nome da "igualdade" assumem o poder e se tornam elites que castram a liberdade e a igualdade.

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