A expedição da caravana de Bravo! nas terras esconsas da Bahia

Todos sabemos que a Bravo!, mesmo tendo tiragem nacional, é por excelência a revista cultural da classe média paulistana. E isto em si não seria um problema se esta classe média paulistana não fosse reproduzida de maneira tão estereotipada: quase sempre forjada como sedenta por “novidades” culturais. Alguém poderia observar que não há como uma publicação direcionada a um leitor arquetípico não acabar se emaranhando em estereótipos, mas acho que a criação desses estereótipos poderia levar ingredientes mais subjetivos para que não haja no final tanta violência na maneira como o conteúdo é passado ao leitor.


Digo isso porque em muitos momentos da minha leitura da Bravo! Especial Bahia me senti ultrajado com a forma expedicionária que a publicação tratou as manifestações culturais em Salvador. Como se a revista não fizesse a mínima questão de esconder que a real intenção dela não é a de retratar o cenário cultural na Bahia (digo, Salvador, porque para os paulistas a Bahia é Salvador, no máximo Porto Seguro e Ilhéus) mas a de traçar um roteiro de entretenimento cultural para que o turista que veio passar férias na paz quente soteropolitana possa ter opções relevantes segundo o critério Bravo! de qualidade. E olha que as opções apontadas pela revista não são tão ruins, gostei especialmente da parte dedicada à música, mas o que me chateou foi a intencionalidade da edição.





Então chego ao ponto: há muito a Bravo! deixou de debater cultura (só me vem à cabeça a boa edição sobre “o americanismo”) para servir de catálogo para a indústria cultural publicizar seus novos produtos. E isto, além de ser canalhice das maiores com o jornalismo cultural, confunde o bem intencionado leitor que passa a achar que cultura é para ser consumida, e não experimentada, entendida e vivenciada.

Esta edição especial Bahia, publicada num ensolarado janeiro, mês que precede o carnaval, e com duas propagandas enormes do governo do estado, não me faz pensar senão em canalhice da grossa. Nada mais coerente em se tratando da Editora Abril.

2 comentários:

Postar um comentário