Uns são, uns dão, uns não, uns hão de


Talvez pela parcimônia que eu tenha adotado na vida minhas fotos sejam cheias de moderações. O não-uso do flash, por exemplo; este só é utilizado em último, mas em último caso mesmo. É uma maneira que eu encontrei de não incomodar os fotografados, além de, claro, me aprazer esteticamente. Quando falo em fotos me refiro não só às da Transa, mas a todas. Todas são sem flash. Talvez por isso a preferência pelo dia (embora admita que isso possa até ser uma limitação da minha máquina). Ainda assim, gosto muito de fotografar durante a noite, e a noite é amarela – é perceptível nas fotos sem flash que faço à noite. Quem diria!, logo você, Noite, senhora das cores que brincam de se esconder, o preto, o cinza, o azul-petróleo, ser assim, tão diurna, tão cheia de empáfia como o amarelo.

Fui gentilmente convidada para fotografar a Charlação da edição número 0. Certamente que o contentamento veio cheio de vontade de se mostrar, mas respondi com um “claro” sorridente e sem maiores demonstrações de euforia. [Parcimônia, Dolores, parcimônia]. Me avisaram o dia e o lugar, acabei indo até lá com os rapazes Eder e João Daniel. A casa, além de agradável, era convidativa em todos os sentidos e também para fotos. Quinze minutos depois de conhecer a morada de Allan nomeada pelo próprio “Nova Consciência”, já estava com a máquina na mão tirando fotos do que para mim era significativo: Uyatã sentado num tronco de árvore – o sofá da sala da Nova Consciência – usando um notebook foi um exemplo disso, e esta cena era deveras interessante não só pela união já clássica da modernidade com a antiguidade mas por “de como as coisas estavam se dando”.


O clima de naturalidade da entrevista já estava estabelecido desde o momento em que sentados ali Uyatã, Allan e eu falávamos de pequenas coisas. Daí em diante tudo correu parecendo história contada. Os outros rapazes chegaram, todos elogiaram a bonita casa de Allan e dentro de alguns minutos estavam sentados em um círculo. Eu fiquei de fora na maior parte do tempo, fotografando e me balançando numa rede deliciosa que havia na varanda, onde a entrevista estava sendo feita. De repente a entrevista parecia uma conversa descompromissada (como era pra ser, aliás), uma garrafa de vinho apareceu e seguimos assim.

As fotos da entrevista já pareciam prontas, os entrevistados estavam numa disposição de corpos incrível. Me senti à vontade pra registrar minha interpretação dos mesmos: como sorriam, como falavam, como agiam quando estavam pensando. Os entrevistados não pareciam reparar nas fotos que estavam sendo tiradas deles; não sei se isso se deu devido ao clima instaurado, ao vinho ou à falta de flashes. Flashes só me atrapalham e enchem o saco de quem está sendo fotografado. Não é uma análise o que faço; surge de uma inspiração o desejo de fotografar a beleza e a aparente vulnerabilidade das pessoas, em especial de meus amigos.

Uma vez eu disse que fotografia é invasão. Pactuo comigo.

2 comentários:

23 de janeiro de 2010 às 10:25 Anônimo disse...

a noite é amarela porque a lua é ensolarada =)

27 de abril de 2010 às 08:23 Unknown disse...

A nova transeunte eterna consciência! sempre límpida, com aromas de sandalo,palo Santo, Salvium, e humanus áureas!!!!
De ganesha, ao tronco em eterna mutação, parecia a todas as manhas ter envelhecido mais que os malabares que de fora descansavam, junto aos sinos do tempo,irrugados pela mandala lunar! Ao trigonométrico tanque de roupas, um portão, portal magicado a um outro estado de Ser, sem nome! Ao pôr do Sol, as paredes astrais, vibravam as cores de quadros músicais eletrônicas ininterruptas celebrações iniciaticas.... Ao Mestre, astros visitantes de uma infinita saudade de abraça-los!

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